quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A colonização inglesa na América do Norte

Introdução
A Inglaterra iniciou seu processo de expansão marítima no final do século XV, após a Guerra das Duas Rosas, com a ascensão da Dinastia Tudor, que deu início a formação do absolutismo e desenvolveu uma política mercantilista. No entanto, as expedições que a princípio pretendiam encontrar uma passagem para o Oriente, não tiveram resultados efetivos, seja pelos conflitos com a Espanha, ou com os povos indígenas na América do Norte.

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A Inglaterra
No século XVII a Inglaterra vivia uma conjuntura favorável à colonização. O comércio havia dado origem a uma burguesia enriquecida e dotado o país de uma grande frota, pois no século anterior, principalmente do reinado de Elizabeth I, o mercantilismo havia se imposto, utilizando-se inclusive das atividades dos corsários; a Espanha, em decadência, não tinha condições de manter os territórios que julgava seus pelo Tratado de Tordesilhas. Do ponto de vista social, havia nas cidades inglesas uma grande massa de homens pobres, resultado do êxodo rural, provocado pelos "cercamentos" e outra camada de origem burguesa, porém que sofria com as perseguições religiosas. Parte desses dois grupos migraram para as colônias da América do Norte.
A Empresa Colonizadora
O início da colonização da América do norte pelos ingleses deu-se a partir da concessão real a duas empresas privadas: A Companhia de Londres, que passou a monopolizar a colonização das regiões mais ao norte, e a Companhia de Plymonth, que recebeu o monopólio dos territórios mais ao sul. Dessa maneira dizemos que a colonização foi realizada a partir da atuação da "iniciativa privada". Porém subordinadas as leis do Estado.
A primeira colônia inglesa foi a Virgínia, que nasceu a partir da fundação da cidade de Jamestown, mas a efetiva ocupação e desenvolvimento da região levaria algumas décadas, ao longo das quais foram estabelecidas outras colônias na região sul: Maryland (colônia católica, em 1632) Carolina Do Norte e Carolina do Sul (1663) e Geórgia (1733). Nessas colônias desenvolveu-se a estrutura tradicional de produção, caracterizada pelo latifúndio monocultor, voltado para a exportação segundo os interesses da metrópole, utilizando o trabalho escravo africano.
As Colônias do Norte têm sua origem na fundação da cidade de New Plymonth ( Massachussets) em 1620, pelos "peregrinos do mayflower", puritanos que fugiam da Inglaterra devido as perseguições religiosas e que estabeleceram um pacto, segundo o qual o governo e as leis seguiriam a vontade da maioria. A partir de NewPlymonth novos núcleos foram surgindo, vinculados a atividade pesqueira, ao cultivo em pequenas propriedades e ao comércio. No entanto a intoler6ancia religiosa determinou a migração para outras regiões e assim novas colônias foram fundadas: Rhode Island e Connecticut (1636) e New Hampshire (1638). Nessa região, denominada genericamente de "Nova Inglaterra" as colônias prosperaram principalmente devido ao comércio. Do ponto de vista da produção, a economia caracterizou-se pelo predomínio da pequena propriedade policultora, voltada aos interesses dos próprios colonos, utilizando-se o trabalho livre, assalariado ou a servidão temporária.
As Colônias do Centro foram as últimas a surgirem, após a Restauração da Monarquia inglesa em 1660. A ocupação daregião ocorreu principalmente por refugiados religiosos e foi onde opensamento liberal rapidamente enraizou-se, tanto do ponto de vista político como religioso. Nova Iorque, Pensilvânia, Nova Jérsei e Delaware desenvolveram tanto a agricultura em pequenas propriedades como a criação de animais, com uma produção diversificada e estrutura semelhante à da Nova Inglaterra.
A Organização Política
As 13 colônias eram completamente independentes entre si, estando cada uma delas subordinada diretamente à metrópole. Porém como a colonização ocorreu a partir da iniciativa privada, desenvolveu-se um elevado grau de autonomia político-administrativa, caracterizada principalmente pela idéia do auto-governo.
Cada colônia possuía um governador, nomeado, e que representava os interesses da metrópole, porém existia ainda um Conselho, formado pelos homens mais ricos que assessorava o governador e uma Assembléia Legislativa eleita, variando o critério de participação em cada colônia, responsável pela elaboração das leis locais e pela definição dos impostos.
Apesar dos governadores representarem os interesses da metrópole, a organização colonial tendeu a aumentar constantemente sua influência, reforçando a idéia de "direitos próprios".


O Desenvolvimento Econômico

As características climáticas contribuíram para a definição do modelo econômico de cada região, o clima tropical no sul e temperado no centro-norte. no entanto foi determinante o tipo de sociedade e de interesses existentes. Na região centro norte a colonização foi efetuada por um grupo caracterizado por homens que pretendiam permanecer na colônia (ideal de fixação), sendo alguns burgueses com capitais para investir, outros trabalhadores braçais, livres, caracterizando elementos do modelo capitalista, onde havia a preocupação do sustento da própria colônia, uma vez que havia grande dificuldade em comprar os produtos provenientes da Inglaterra.
A agricultura intensiva, a criação de gado e o comércio de peles, madeira, e peixe salgado, foram as principais atividades econômicas, sendo que desenvolveu-se ainda uma incipiente indústria de utensílios agrícolas e de armas. Em várias cidades litorâneas o comércio externo se desenvolveu, integrando-se às Antilhas, onde era obtido o rum, trocado posteriormente na África por escravos, que por sua vez eram vendidos nas colônias do sul: Assim nasceu o "Comércio Triangular", responsável pela formação de uma burguesia colonial e pela acumulação capitalista.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Barroco

arte-barroca-11ARTES PLÁSTICAS, LITERATURA, MÚSICA, TEATRO, BARROCO NO BRASIL, Artes plásticas no Brasil, Literatura no Brasil, Música, Teatro no Brasil
Tendência que se manifesta nas artes plásticas e, em seguida, na literatura, na música e no teatro no começo do século XVII. Inicia-se na Itália e propaga-se por Espanha, Holanda, Bélgica e França. Na Europa, perdura até meados do século XVIII. Atinge a América Latina desde o princípio do século XVII até o fim do século XVIII.
Em um período em que a Igreja Católica tenta recuperar o espaço perdido com a Reforma Protestante e os monarcas se concedem poderes divinos, a arte barroca busca conciliar a espiritualidade e a emoção da Idade Média com o antropocentrismo e a racionalidade do Renascimento. Sua característica marcante, portanto, é o contraste e a contradiçao.
A palavra barroco, originalmente "pérola deformada", exprime de forma pejorativa a idéia de irregularidade. As obras são rebuscadas, expressam exuberância, emoções extremas. Durante o período, os artistas são patrocinados pela burguesia em ascensão, além de sê-lo igualmente pela Igreja e pelos governantes. A fase final do barroco é o rococó, estilo originário da França no século XVIII, durante o reinado de Luís XV. Caracteriza-se pela abundância de curvas e de elementos decorativos, como conchas, laços, flores e folhagens. A temática é inspirada nos hábitos da corte e na mitologia greco-romana.
ARTES PLÁSTICAS – As pinturas revelam contrastes de cores e jogos de luz e sombra. Valoriza-se mais a cor que a linha. As composições tendem a ser menos centralizadas e a exibir figuras mais dinâmicas que as renascentistas. Além dos temas bíblicos, históricos e mitológicos, são freqüentes as naturezas-mortas, as cenas cotidianas e os retratos da nobreza e da burguesia ascendente. Nos países católicos, vários artistas decoram igrejas – é comum as pinturas do teto darem a ilusão de abertura para o céu, com técnicas de perspectiva.
Os principais pintores são o italiano Caravaggio o espanhol Velázquez (1599-1660), os belgas Van Dyck (1599-1641) e Frans Hals (1581?-1666), o flamengo Rubens (1577-1640) e os holandeses Rembrandt Vermeer (1632-1675).
Na escultura, as estátuas mostram figuras com rostos contraídos pelo sofrimento ou pelo êxtase e silhuetas rebuscadas que se contorcem em movimento extremo. Há exagero nos relevos, predomínio de linhas curvas, drapeados nas roupas e muito uso do dourado.
LITERATURA – Caracteriza-se pelo retorno às questões espirituais em oposição ao racionalismo renascentista. Enfoca idéias contrárias, como amor e sofrimento, vida e morte, religiosidade e erotismo. São freqüentes a sátira social e a humanização do sobrenatural. A maior produção está na poesia.
Os textos poéticos têm estilo trabalhado e linguagem culta. São comuns figuras de linguagem ligadas à intensidade (hipérbole), à dualidade (antítese) e à ordem inversa (hipérbato). Em geral, aparecem muitos vocativos, repetições e frases interrogativas. Desenvolvem-se dois estilos: o cultismo, marcado pela forma rebuscada, considerada mais importante que o conteúdo; e o conceptismo, caracterizado pela exposição de fundamentos da lógica. Os poetas mais notáveis são o italiano Giambattista Marino (1569-1625), o inglês John Donne (1572-1631) e os espanhóis Luís de Gôngora, Francisco de Quevedo, São João da Cruz (1542-1591) e Santa Tereza de Ávila. Charles Perrault (1628-1703) adapta contos indo-europeus e estabelece um modelo de contos de fada seguido por diversos autores.
MÚSICA – Predomina uma música vocal-instrumental voltada para o texto a ser cantado. É o início da música tonal, da ópera da fuga – forma na qual uma voz melódica imita a outra com certa defasagem. A polifonia cede lugar à homofonia. Os instrumentos aperfeiçoam-se, ganham importância e são aceitos nas igrejas – onde antes só se admitia música vocal. Compõem-se missas, oratórios e cantatas religiosas, como Missa em Si Menor, de Johann Sebastian Bach. Surgem novas formas de composição instrumental, como o concerto, as suítes de danças, as tocatas para instrumentos solistas e a sonata. Os modos medievais são substituídos por dois modos tonais: o maior e o menor. As notas organizam-se em um desses modos, com base em uma das 12 alturas cromáticas (as sete notas mais suas alterações, sustenido ou bemol): dó menor, dó maior, ré maior etc.
Os principais compositores de música vocal barroca são os italianos Claudio Monteverdi (1567-1643), Alessandro Scarlatti (1660-1725) e Giovanni Pergolesi (1710-1736). Na área instrumental, os expoentes são os italianos Arcangelo Corelli (1653-1713), Antonio Vivaldi , Giuseppe Tartini (1692-1770) e os alemães Georg Friedrich Haendel e Bach.
TEATRO – Reflete o espírito da época: atormentado, tenso e pessimista. A linguagem, a princípio sóbria, torna-se rebuscada. Em busca de um público aristocrático, o teatro francês segue regras rigorosas, como a imitação obrigatória de modelos greco-romanos e o respeito às unidades aristotélicas. Em 1680, a Comédie-Française faz do teatro uma atividade oficial, subvencionada pelo Estado. O conflito entre a razão e o sentimento marca as peças de Pierre Corneille (1606-1684) e de Jean Racine (1639-1699). As comédias de Molière mostram tipos que simbolizam as qualidades e os defeitos humanos.
Na Inglaterra destacam-se John Webster (1580-1625), John Ford (1586-1639?) e John Fletcher (1579-1625). O teatro italiano copia modelos franceses. A inauguração em 1637, em Veneza, do primeiro teatro público de ópera introduz revoluções técnicas. A cena reta greco-romana é trocada pelo "palco italiano", com boca de cena arredondada, cortina e luzes na ribalta, telões pintados em perspectiva e maquinaria que gera efeitos especiais.
BARROCO NO BRASIL – Influenciado primeiramente pelo barroco português, o movimento brasileiro assume características próprias e dá início efetivo à arte nacional.
Artes plásticas no Brasil – A principal produção, ligada à Igreja, concentra-se em Minas Gerais, centro de riqueza da época. Predomina o estilo rococó em esculturas de materiais típicos nacionais, como madeira e pedra-sabão. O arquiteto, entalhador e escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho é o expoente. Entre suas obras-primas estão as esculturas Os Doze Profetas e Os Passos da Paixão, na Igreja de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo (MG). Outros artistas importantes são o escultor carioca Mestre Valentim (1750-1813) e o pintor mineiro Manuel da Costa Ataíde (1762?-1830). Na Bahia destaca-se a decoração de igrejas em Salvador, como a de São Francisco de Assis e a da Ordem Terceira de São Francisco. No Rio de Janeiro, o interior da Igreja do Mosteiro de São Bento.
Literatura no Brasil – O marco inicial do barroco na literatura brasileira é a publicação, em 1601, de Prosopopéia, poema épico de Bento Teixeira (1561-1600) sobre a conquista de Pernambuco. O poeta baiano Gregório de Matos o Boca do Inferno, por sua ácida sátira social, é o principal nome do período, com uma obra que vai do religioso ao satírico e ao erótico. Na prosa, restrita aos sermões, o destaque é o missionário jesuíta português padre Antônio Vieira . No começo do século XVIII, as academias difundem o gosto pelas letras e realizam trabalho de pesquisa histórica.
Música – Há grande produção por encomenda da Igreja. A partitura mais remota, de 1759, é Recitativo e Ária, atribuída ao padre Caetano Mello de Jesus, com texto cantado em português. No Recife existem documentos relativos à atuação dos compositores Inácio Ribeiro Nóia (1688-1773) e Luís Álvares ***** (1719- 1789). Em Minas Gerais, os compositores inspiram-se nas óperas napolitanas e na música religiosa portuguesa de caráter polifônico. Os principais são José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805), Marcos Coelho Neto (1740-1806), Inácio Parreiras Neves (1730-1793) e Manoel Dias de Oliveira (1764-1837). No fim do século XVIII, destaca-se o carioca José Maurício Nunes Garcia (1767-1830).
Teatro no Brasil – É pouco conhecido, pois a publicação de textos era proibida na colônia. Predominam os autos religiosos, encenados pelos padres jesuítas desde o início da colonização, mas também se desenvolve um teatro profano. Um dos poucos autores a ter suas obras conhecidas é o baiano Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711). Influenciado pelo barroco espanhol, escreve as comédias Hay Amigo para Amigo e Amor, Engaños e Celos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Guerra do Paraguai

O valor de um canhão


BORIS FAUSTO COLUNISTA DA FOLHA

Revisão histórica da Guerra do Paraguai afasta influência da Inglaterra no maior conflito bélico da América Latina

A pedido do vice-presidente do Paraguai, Federico Franco, o presidente Luiz BORIS_FAUSTO Inácio Lula da Silva anunciou a decisão de devolver àquele país o canhão “Cristão”, fabricado pelos paraguaios a partir de sinos de igrejas, no curso da guerra com a Tríplice Aliança, formada pelo Brasil, a Argentina e o Uruguai, entre 1864 e 1870. A medida foi aplaudida pelo presidente do Clube Militar [general Gilberto Barbosa de Figueiredo], afirmando que “normalmente não se devolve troféu de guerra, mas o povo paraguaio merece; é um ato de grandeza”. Aplausos, com um pequeno adendo: mais do que um ato de grandeza, a devolução é um ato de justiça.“Guerra brasileira”
A Guerra do Paraguai foi o fato mais relevante da história latino-americana, na segunda metade do século 19. A luta contra aquele país, liderado por Francisco Solano López, que a princípio reuniu os três países citados, passou a ser, cada vez mais, uma “guerra brasileira”, seja pelos efetivos militares envolvidos, seja por sua repercussão interna. O episódio tem também muito interesse pelas controvérsias historiográficas que gerou. Até anos recentes, Solano López era considerado, no Paraguai, um herói nacional; no Brasil, foi pintado como um tirano sanguinário, que tivemos de esmagar, apesar de nossa vocação pacifista.
Nem tão herói assim. Essas visões mudaram nos dois lados, pois, se Solano continua a ser um herói da pátria para a maioria do povo paraguaio, vários historiadores daquele país promoveram a revisão para baixo de sua figura. Quanto ao Brasil, a Guerra do Paraguai foi descrita e analisada, por muitas décadas, a partir de uma versão patrioteira. Qualquer outra versão era considerada impatriótica e implicitamente perigosa. Uma reviravolta ocorreu a partir dos anos 1960 do século passado, no âmbito da voga do nacionalismo anti-imperialista, nos meios intelectuais da América Latina. Um dos pontos centrais da revisão diz respeito às causas da guerra, atribuída às maquinações do imperialismo britânico. Um livro típico daquela época, “Genocídio Americano – A Guerra do Paraguai”, do jornalista Julio José Chiavenato (1979, ed. Moderna, esgotado), teve imenso sucesso nas escolas brasileiras, incorporando a versão conspirativa. Segundo o autor, ao destruir o Paraguai, o imperialismo inglês manteve o status quo na América meridional e impediu a ascensão de seu único Estado economicamente livre. Hoje, a tese conspirativa está desacreditada, graças aos trabalhos de Francisco Doratioto, baseado em fontes brasileiras e paraguaias (“Maldita Guerra”, 2002, Cia. das Letras), e de outros historiadores, como Ricardo Salles ["Guerra do Paraguai - Escravidão e Cidadania na Formação do Exército", Paz e Terra] e Vitor Izecksohn ["O Cerne da Discórdia - A Guerra do Paraguai e o Núcleo Profissional do Exército", E-Papers]. Na verdade, aos ingleses interessava acima de tudo a estabilidade da região, como garantia de seus bons negócios, e não um conflito. É certo, que após estourar a guerra, bancos ingleses financiaram o Brasil, agravando aliás o problema de nossa dívida pública, mas isso é outra história. O conflito teve causas locais, embora nem sempre fáceis de discernir. ~
Morticínios De um lado, Solano López, que instaurara no Paraguai uma ditadura férrea e convertera o país numa grande fazenda pertencente ao Estado, pretendia romper o relativo isolamento paraguaio e abrir caminho para uma presença maior na bacia do [rio da] Prata. De outro lado, as pretensões paraguaias eram tidas como francamente expansionistas e vistas com suspeita pelos países da Tríplice Aliança. Se López não era um herói precursor do anti-imperialismo, o Brasil liberal, mas escravista, não ficava em boa posição na luta contra o ditador. Além disso, ao longo do conflito, as forças brasileiras perpetraram uma série de morticínios, assim como o saque de Assunção, quando a capital paraguaia foi ocupada, em janeiro de 1869. O que não quer dizer que as ações paraguaias não se caracterizassem também por muitas barbaridades. No terreno dos números, há uma total incerteza quanto às mortes do lado do Paraguai, variando as cifras entre 9% e 69% da população! O Brasil enviou para a guerra cerca de 139 mil homens, dos quais uns 50 mil morreram nos combates ou foram vítimas de doenças. Os contingentes incluíram, além do Exército, os “voluntários da pátria” -na verdade, gente enviada à força para a frente de combate, entre eles escravos que substituíram filhos da elite. Para qualificar o conflito numa frase, lembremos uma carta escrita pelo barão de Cotegipe para o barão de Penedo, em maio de 1866. Nela, há um trecho eloquente, lembrado por Doratioto: “Maldita guerra, atrasa-nos meio século!”. De fato, a guerra não nos atrasou meio século, como pensava o provecto barão, mas certamente mereceu o qualificativo de maldita.”
BORIS FAUSTO é historiador e preside o Conselho Acadêmico do Gacint (Grupo de Análise da Conjuntura Internacional), da USP. É autor de “A Revolução de 30″ (Companhia das Letras).